Diante da rotina, do despertador que toca antes do sol aparecer, do banho rápido, do café engolido de pé na cozinha do apartamento alugado, da banana enfiada às pressas na bolsa antes de sair de casa , eu repasso ao menos semanalmente o roteiro que vez e outra considero tedioso. Acontecem outras milhares de pequenas coisas durante o dia que nem vem ao caso aqui, mas acontece que no dia em que não começo o meu dia me enfiando numa roupa azul marinho e me encaminhando ao trabalho, eu reflito o quão tediosa tem sido a minha rotina. Nada espetacular acontece, nada que mude de uma hora para outra a minha realidade, nada de prêmios milionários, reviravoltas em histórias de amor do passado que não deram certo, nada de arrasta pra cima que triplica a minha renda... comigo não rolou ainda, nadica de nada, só a boa e velha rotina de sempre. Mas sempre que reflito sobre isso, me vem à memória uma história que não lembro mais se ouvi, li, ou assisti ... É a história de uma moça, cujo nome não vou lembrar também, sou uma péssima contadora de histórias para quem se apega a detalhes, mas vamos lá.
sexta-feira, 19 de agosto de 2022
NORMAL
Essa moça , assim como eu, vinha refletindo sobre a rotina tediosa que levava , nada de extraordinário, nada que disparasse uma bomba de adrenalina durante seu dia de vinte e quatro horas, que vez ou outra pareciam um replay, um looping ...nada. Num certo dia essa moça abre os olhos e está dentro de um hospital, numa maca com ataduras em locais que ela nem considerava possíveis de serem enfaixados, não entendia ao certo o que havia acontecido, mas logo a explicaram que não tratava-se de um coma de 15 anos, mas de uma perda de consciência após um atropelamento naquele mesmo dia, até aquele momento não vizualizara rostos conhecidos, não haviam conseguido avisar familiares. Sozinha, num hospital, alguns ossos quebrados e zero noção do que havia acontecido. Sede , fome, frio , exposição e ninguém conhecido por perto. Tudo que sabia sobre o ocorrido limitava-se ao que contavam para ela. Do que lembro dessa história, cabe aqui um desfecho rápido e que me traz reflexão: Entre ossos quebrados, perda temporária da memória, sensação de abandono, dor e incertezas, a moça , que recuperou-se bem do ocorrido, desejava e pedia a Deus que pudesse voltar o mais rapidamente quanto fosse possível a sua rotina "tediosa".
Afinal, deslocar-se até o banheiro, comer e realizar suas necessidades básicas de forma autônoma , transformaram-se em atividades espetaculares a partir de então. Aqueles dias hospitalizada foram dias de rotina alterada, adrenalina e nada monótonos, mas de um jeito que ela não esperava que a vida pudesse se transformar num "passe de mágica."
A reflexão que faço atualmente sobre a rotina é dar atenção aos pequenos atos. Sair do automático, mesmo no café de pé na cozinha, no banho rápido , durante a limpeza da pia e das infinitas louças... e de tantas outras pequenas atividades dos dias normais de pessoas normais.
Um dia normal é um bom dia!
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